Resenha do livro: Pequena coreografia do adeus (MUITO BOM MESMO)
Esse livro foi muito importante para mim, amei a escrita da Aline e consegui ler com uma rapidez impressionante, não tenho nem palavras pra descrever a experiência (na verdade, é só modo de dizer, tenho palavras até demais). Fiquem com essa resenha enorme.
SINOPSE
"Pequena coreografia do adeus" conta a história de Júlia, uma menina que sofre violência por parte da sua mãe e sente a rejeição do seu pai, a convivência familiar sempre foi conturbada, com brigas, violência e falta de amor, o que levou à separação de seus pais. A separação trouxe para a mãe a sensação de ter sido abandonada pelo marido, e o pai se arrependia profundamente de um dia ter se casado. Júlia chega à vida adulta tendo dificuldade de aceitar o amor e tenta reconstruir sua vida. Ela passa a trabalhar em um café e conhece figuras importantes para a narrativa, como a dona do café, os clientes, a dona da pensão em que mora enquanto tenta conciliar com seu relacionamento com os pais. Aline Bei mostra de forma poética a vida e os pensamentos de Júlia, que vive em uma pequena coreografia do adeus.
MINHA OPINIÃO SOBRE
O livro é escrito em versos, mas a escrita parece ser em prosa. Fiquei super triste quando conheci sobre a infância de Júlia, é preocupante o quanto a falta de amor dos pais pode afetar a vida de alguém, viver pisando em ovos na própria casa foi para Júlia a única forma de viver que ela conhecia. A personalidade da protagonista foi muito bem construída, o relacionamento dos pais entre si e o relacionamento dos pais com a própria filha foram tópicos desenvolvidos com maestria pela autora.
A escrita vai evoluindo conforme Júlia cresce, a dualidade entre amor e ódio pelos pais foi um ponto muito bem trabalhado. Aos poucos nós leitores vamos entendendo o motivo do título do livro, a temática da morte, da perda, do desamparo estão muito presentes. A passagem da infância para a puberdade e da puberdade para a fase adulta foram INCRÍVEIS, amei cada segundo, li muito rápido.
Júlia se torna uma adulta que não sabe como receber amor, não se acostuma com a preocupação dos outros com o sentimentos dela e não consegue entender que existem relações saudáveis. Amei a escrita da Aline, a representação da coreografia de uma partida, uma coreografia de fuga, deram a chama que o livro precisava pra ser um sucesso.
As minhas críticas eu dediquei pro final do livro, que não entendi direito, não sou muito fã de finais abertos, gosto de um fechamento, gosto de saber que teve um desfecho. Achei o final muito corrido, pouco explicado e senti que a autora poderia ter demorado um pouco mais nos acontecimentos das últimas páginas.
Outra coisa importante é que o livro consegue atrair não só aqueles que passaram ou passam pelo que Júlia passou, mas atrai também aqueles que nunca tinham pensado sobre o assunto. Esse livro não omite nada, é uma narrativa crua que desperta muita empatia em TODOS os leitores, até porque todo mundo tem um pouco de Júlia dentro de si, vou deixar aqui algumas frases que eu achei de muito impacto:
"É normal a gente desconhecer as pessoas que a gente achava que conhecia?"
"Por que será que os estranhos sempre nos pesam menos? Amamos a possibilidade de a pessoa ser exatamente aquilo que projetamos nela."
"Quantas possibilidades de Júlia eu perdi pelo caminho para me transformar nesta Júlia que sou agora?"
"Nas repetições é que se instalam os afetos cotidianos."
"Ora caminhando para a presença materna, ora fugindo de qualquer possibilidade de mãe."
"Artista não é quem explode por dentro, isso pode acontecer com toda e qualquer pessoa; só é artista quem entrega a explosão aos pés do público com ritmo, poesia, beleza ainda que ele esteja dançando um crime."
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