Fofocando sobre o filme: Estômago
Sempre fui muito fã das comédias românticas bobinhas, mas nos últimos tempos alterei meu gosto para filmes quase completamente. Acho que todo mundo que passa por uma fase de transição muito intensa (por exemplo da escola para a faculdade ou da faculdade para o mercado de trabalho) acaba alterando de forma drástica o conteúdo das coisas que consome e isso é super normal, é até legal mudar um pouco, não quer dizer que eu tenha parado de consumir comédias românticas, só quer dizer que hoje em dia assisto menos, inclusive a querida Netflix precisa inovar esse catálogo romântico. Enfim, hoje quero comentar sobre um filme que amei muito, é um filme nacional cheio de camadas que tem o drama, tem o humor, tem o sal e tem o protagonismo, talvez "fofocando sobre filmes" vire um quadro aqui nesse site, se vocês gostarem.
SINOPSE
Estômago conta a história de Raimundo Nonato, um homem que vai para a cidade grande a fim de melhorar as condições de vida. Ao chegar na cidade ele é contratado para trabalhar como faxineiro em um bar de uma região periférica, até que o patrão descobre o talento de Nonato na cozinha e o coloca para produzir coxinhas, que se mostram um sucesso e fazem aumentar o número de consumidores do bar rapidamente. Isso leva Nonato a ser chamado para trabalhar como ajudante de cozinheiro em um restaurante italiano chique, que o faz mudar de vida. Logo depois ele comete um crime e vai para a prisão, sendo retratada a jornada para virar cozinheiro de cela.
MINHA OPINIÃO
O filme retrata o ponto de vista do protagonista, com a filmagem incrível, diálogos icônicos e cenário nacional maravilhoso. Acho que amo filmes brasileiros porque têm um charme, têm o conceito artístico e têm um sentido que vai além da simples cena. Raimundo Nonato me cativou no primeiro instante e conseguiu manter o ar de inocência do início ao fim, mesmo quando descobri o crime que ele tinha cometido.
Em primeiro plano a gente acompanha a história, que intercala os momentos na prisão com os acontecimentos passados e em segundo plano é possível acompanhar a profundidade das relações sociais, envolvendo abuso da força de trabalho, péssimas condições de emprego, ciúmes, desigualdade social, prostituição e sistema carcerário.
Nonato perpassa todos os âmbitos sociais, ele começa como migrante, trabalha de forma totalmente submissa, depois evolui na esfera de emprego e melhora de vida, pra ter como destino final a prisão, que reflete todas as fases anteriores porque o personagem também precisa evoluir de classe social dentro da prisão, mostrando que estar preso não isenta os indivíduos das diferenças de classes.
A personagem feminina é uma prostituta pela qual Nonato se apaixona perdidamente. Acredito que eles tenham sentido essa ligação tão forte porque a catarse dos dois era a comida, ou seja, comer e cozinhar era a forma deles de fugir da realidade, de se libertar. Ao mesmo tempo em que a comida uniu, a comida separou.
O filme conseguiu unir comédia, drama, suspense e crítica social. O final foi surpreendente, fiquei chocada porque não teve só uma reviravolta, mas sim duas: uma que se relacionava ao mundo fora da prisão e uma que mostrava as relações de poder entre os presos. Inclusive foi genial usar as beliches para simbolizar as classes de dentro da prisão. É o tipo de filme que te impede de tirar os olhos da tela, eu fiquei entretida o tempo inteiro e as duas horas passaram rapidinho, recomendo muito.
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