Resenha do livro: Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

  Encontrei esse livro em uma busca que estava fazendo por uma rede social de livros, fiquei querendo um livro que seguisse o mesmo estilo de "Tudo é Rio" e "A pequena coreografia do adeus" e acabei encontrando "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios". De início o título já gera um impacto porque fala sobre receber notícias péssimas e a própria história caminha para um rumo que a gente sabe que vai dar errado, que não tem a menor possibilidade de dar certo até que o título começa a fazer sentido.

   O livro se passa em uma cidade pequena (no Pará), em uma época de boom dos garimpos e comércios, então a  vida social de lá fica extremamente ativa com a chegada de garimpeiros, comerciantes, assassinos e muitos conflitos. "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" é narrado por Cauby, que começa a contar sua história enquanto convalesce numa pensão barata, que aos poucos relembra de tudo aquilo que viveu até chegar ao estado físico que chegou. Cauby é um fotógrafo envolvido em um escândalo por ter se envolvido com Lavínia, a esposa do Pastor, uma mulher por quem Cauby foi extremamente apaixonado, nesse romance Lavínia tinha duas personalidades, a personalidade selvagem que era chamada de Shirley e a esposa recatada que atendia pelo nome de Lavínia. Aos poucos a história perpassa os outros personagens da cidade, um outro fotógrafo morto, um jornalista vingativo, a trajetória do pastor e o romance proibido de Cauby e Lavínia.

   A experiência de leitura não foi linear, o autor intercala histórias e vai e volta nas informações e nos personagens, partindo da cena dele na pensão, que é depois de todo o ocorrido, e a partir disso ele retorna em recordações ao início da história. Cauby é um homem que ama a arte, principalmente a fotografia, o que torna ele um homem extremamente sensível que provavelmente não ama o Outro, mas ama o amor. Tanto é que todas as histórias são atravessadas por um livro que o próprio Cauby está lendo, o que foi um recurso narrativo interessante porque o suposto autor do livro citado não existe.

  Já Lavínia tem uma personalidade muito interessante porque ela se comporta de jeitos diferentes, o narrador coloca como se ela variasse radicalmente entre ser Lavínia e ser Shirley. O ponto em comum entre Cauby e Lavínia é a fotografia, que os dois entendem de um jeito diferente, já que Lavínia evita a todo custo fotografar pessoas. O relacionamento dos dois é muito intenso, tanto na fase em que Lavínia está apaixonadíssima, quanto na fase em que Lavínia some e para de dar valor. Enquanto tudo isso acontece, o marido de Lavínia (que é pastor) aparece enquanto coadjuvante em uma história secundária do livro.

  A cidade também é personagem, porque o contexto de extremo caos pelos garimpos gera um clima de revolta, de caos, de conflito, que sem isso nem metade das histórias aconteceriam. Por fim, o final do livro pareceu distante de toda a história que o livro lutou para apresentar, mas deve ser sido essa a intenção do autor, trazer um fechamento mostrando o que restou depois de tudo o que aconteceu e também a reconstrução acima de tudo o que restou.

  Fazia tempo que eu não lia um livro tão digno de resenha, mas assim que bati o olho nas páginas já soube que precisaria trazer para vocês, espero que tenham gostado desse estilo de resenha mais livre :)

Frases que gostei:

"Queremos o que não podemos ter, diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor. É normal, saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta, é o quanto cada um quer o que não pode ter. Nossa ração de poeira das estrelas."

"O professor Schianberg diz que a natureza do amor, de não nos permitir escolher por quem nos apaixonamos, é uma rota que pode conduzir à ruína. Entendo por que Schianberg escreveu isso. E dou razão a ele. Alguns amores levam à ruína. Eu soube disso desde a primeira vez em que Lavínia entrou na minha casa."

"O careca tosse – e fala do fim sem conhecimento de causa. Não tem ideia, mas fala do fim. Todos falam, é fácil. Quero saber quantos tiveram a coragem de ir até lá. De encontro ao fim. Eu tive."